Pausa || para sentir
Sentir o
que verdadeiramente sentimos precisa-se.
Somos um
infinito de sentimentos, tão vasto quanto variada em intensidades, vistos
diariamente a olho de um mapa de coloração corporal das emoções, este varia
numa decalagem, sem cor em estado basal, pouca ativação e descolorado sempre
que sentimos tristeza, ao todo irrigado e colorido de laranja avermelhado
sempre que sentimos paixão.
Atualmente
é enorme a rapidez de comunicação e a informação é tão voraz, que se multiplica
a cada dia, este “bombardeamento informativo” é irreversível, ainda está por
estudar os seus efeitos cerebrais, no conceito lato na sociedade em que vivemos
e para onde caminha o seu contexto social de toda esta mutação constante das
formas de comunicar as emoções.
As emoções
são demonstradas e vividas nas redes sociais, desde as emoções mais simples às
mais complexas, e a verdadeira veracidade das mesmas é uma questão tão
complexa, quanto refinada. É a mente humana na forma como comunica a emoção,
como seres influenciáveis que somos, as redes sociais, foram criadas para
comunicar, informar, sentir rápido, esta rapidez de sentir, ou querer fazer-se
sentir no outro, criou uma necessidade. Esta interdependência de um querer
aparecer, de se fazer notável para os outros, ou simplesmente combater o medo
da solidão, estes meios levam a saltar etapas, as etapas essenciais, para que
haja solidez de sentimentos, na hora de nos relacionarmos e sentir na pele e
cara a cara.
A
regulação sociocultural mexe em grande escala com todos os seres humanos, quer
queiramos ou não como seres globais, as problemáticas que hoje um país sente,
afeta direta e indiretamente as pessoas de um país longínquo, a globalização
deixa-nos uma certeza que estamos todos no mesmo barco que é o planeta Terra.
Mesmo que
queiramos negar como mecanismo de defesa, sentimos as catástrofes, a fome e as
guerras em países que mal queremos ouvir falar, mas poderíamos ser nós próprios
a passar por aquela situação.
Pois é, e
se fossemos nós!?
A
capacidade empática de nos pormos no lugar do outro, ainda bem que acontece, se
não deixávamos de ser humanos, esta empatia é responsabilidade dos neurónios
espelho que nos alertam para o sentir do outro, sempre que alguém sofre, pois
em algum dia poderei ser eu, e seria tão bom ter auxílio de alguém.
Porém,
cada um tem a sua forma de sentir, a sua própria forma de comunicar e de se
fazer entender, a sua própria sinestesia em fazer perceber a sua essência.
Sentimos e
demonstramos nossas percepções de formas diferentes. Necessitamos aceitar isso.
Precisamos
sentir é também admitir que a vida é cheia de surpresas, inclusive no modo como
nos vamos sentir em reação a algo, também é preciso estar disponível para que
aconteça, para que se deixe tocar e ir em busca do que realmente sentes.
Mesmo as
pessoas mais seguras de si, sentem e se derretem quando se deparam com a hora
da vulnerabilidade, porque sem partilha não se é ninguém.
Muitas
vezes sentimos as emoções diretamente no “corpo”.
Pois bem,
já ouviste falar em dores psicossomáticas, sim é verdade emoções com cargas tão
negativas que ao não serem resolvidas e direcionadas no sentido de serem libertadas
do organismo, estas somatizam-se em dores corporais.
Costumo
dizer que falar de sentimentos deveria ser tão natural como a sede, viver, como
quem diz, seria a descrição clara e cristalina sem rodeios da narrativa do
sentimento de sentir.
Hoje as
transformações socioculturais são enormes e imprevisíveis tal como as mutações
dos seus valores, tal como disse Zygmunt Bauman acerca das relações humanas,
“vivemos tempos líquidos voláteis nada está para durar”...Esta incógnita de
interrogação, de insegurança, que o mundo pós-moderno deposita em nós, em que
cada pessoa tem que gerir as variadas informações e filtra-las sabiamente, para
viver as emoções e sentimentos numa esfera de constante inconstância é complexo,
encontrar a homeostasia equilibrada em nós próprios.
Repara
como é difícil fazê-lo:
Descreve
para alguém alguma experiência que te tenha despoletado em ti uma emoção de tal
forma que te fez sentir especial.
Como por
exemplo:
Episódio
em que auxiliaste alguém necessitado.
Encontro
com a beleza arrebatadora da Natureza.
Ou outros
encontros com pessoas ou connosco próprios.
Seja como
for, vivenciar e partilhar o teu sentir, é essencial, sentir o nosso infinito
de sentimentos diários, mesmo os de carga negativa, que causam dor, podem ser
simplificados na hora da partilha do teu sentir com o outro, e é nessa abertura
de convivência presencial que a sua assimilação e compreensão podem acontecer
naturalmente.
Celino Barata