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sexta-feira, 17 de março de 2017

Pausa || Para Sentir




Pausa || para sentir
Sentir o que verdadeiramente sentimos precisa-se.
Somos um infinito de sentimentos, tão vasto quanto variada em intensidades, vistos diariamente a olho de um mapa de coloração corporal das emoções, este varia numa decalagem, sem cor em estado basal, pouca ativação e descolorado sempre que sentimos tristeza, ao todo irrigado e colorido de laranja avermelhado sempre que sentimos paixão.
Atualmente é enorme a rapidez de comunicação e a informação é tão voraz, que se multiplica a cada dia, este “bombardeamento informativo” é irreversível, ainda está por estudar os seus efeitos cerebrais, no conceito lato na sociedade em que vivemos e para onde caminha o seu contexto social de toda esta mutação constante das formas de comunicar as emoções.
As emoções são demonstradas e vividas nas redes sociais, desde as emoções mais simples às mais complexas, e a verdadeira veracidade das mesmas é uma questão tão complexa, quanto refinada. É a mente humana na forma como comunica a emoção, como seres influenciáveis que somos, as redes sociais, foram criadas para comunicar, informar, sentir rápido, esta rapidez de sentir, ou querer fazer-se sentir no outro, criou uma necessidade. Esta interdependência de um querer aparecer, de se fazer notável para os outros, ou simplesmente combater o medo da solidão, estes meios levam a saltar etapas, as etapas essenciais, para que haja solidez de sentimentos, na hora de nos relacionarmos e sentir na pele e cara a cara.
A regulação sociocultural mexe em grande escala com todos os seres humanos, quer queiramos ou não como seres globais, as problemáticas que hoje um país sente, afeta direta e indiretamente as pessoas de um país longínquo, a globalização deixa-nos uma certeza que estamos todos no mesmo barco que é o planeta Terra.
Mesmo que queiramos negar como mecanismo de defesa, sentimos as catástrofes, a fome e as guerras em países que mal queremos ouvir falar, mas poderíamos ser nós próprios a passar por aquela situação.
Pois é, e se fossemos nós!?
A capacidade empática de nos pormos no lugar do outro, ainda bem que acontece, se não deixávamos de ser humanos, esta empatia é responsabilidade dos neurónios espelho que nos alertam para o sentir do outro, sempre que alguém sofre, pois em algum dia poderei ser eu, e seria tão bom ter auxílio de alguém.
Porém, cada um tem a sua forma de sentir, a sua própria forma de comunicar e de se fazer entender, a sua própria sinestesia em fazer perceber a sua essência.
Sentimos e demonstramos nossas percepções de formas diferentes. Necessitamos aceitar isso.
Precisamos sentir é também admitir que a vida é cheia de surpresas, inclusive no modo como nos vamos sentir em reação a algo, também é preciso estar disponível para que aconteça, para que se deixe tocar e ir em busca do que realmente sentes.
Mesmo as pessoas mais seguras de si, sentem e se derretem quando se deparam com a hora da vulnerabilidade, porque sem partilha não se é ninguém.
Muitas vezes sentimos as emoções diretamente no “corpo”.
Pois bem, já ouviste falar em dores psicossomáticas, sim é verdade emoções com cargas tão negativas que ao não serem resolvidas e direcionadas no sentido de serem libertadas do organismo, estas somatizam-se em dores corporais.
Costumo dizer que falar de sentimentos deveria ser tão natural como a sede, viver, como quem diz, seria a descrição clara e cristalina sem rodeios da narrativa do sentimento de sentir.
Hoje as transformações socioculturais são enormes e imprevisíveis tal como as mutações dos seus valores, tal como disse Zygmunt Bauman acerca das relações humanas, “vivemos tempos líquidos voláteis nada está para durar”...Esta incógnita de interrogação, de insegurança, que o mundo pós-moderno deposita em nós, em que cada pessoa tem que gerir as variadas informações e filtra-las sabiamente, para viver as emoções e sentimentos numa esfera de constante inconstância é complexo, encontrar a homeostasia equilibrada em nós próprios. 
Repara como é difícil fazê-lo:
Descreve para alguém alguma experiência que te tenha despoletado em ti uma emoção de tal forma que te fez sentir especial.
Como por exemplo:
Episódio em que auxiliaste alguém necessitado.
Encontro com a beleza arrebatadora da Natureza.
Ou outros encontros com pessoas ou connosco próprios.
Seja como for, vivenciar e partilhar o teu sentir, é essencial, sentir o nosso infinito de sentimentos diários, mesmo os de carga negativa, que causam dor, podem ser simplificados na hora da partilha do teu sentir com o outro, e é nessa abertura de convivência presencial que a sua assimilação e compreensão podem acontecer naturalmente.
           
                                                            Celino Barata



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