Pausa || Para escrever
Não é novidade para ninguém que colocar
no papel o que nos vai na alma pode ajudar a minimizar efeitos de
acontecimentos traumáticos. O que ainda não se sabia era que, além das feridas
emocionais, escrever também pode ajudar a curar feridas físicas. Visto a lógica
deste estudo parece-me natural, quando a escrita se torna um bom catalisador de
catarse emocional, esta permite uma oxigenação superior do organismo, logo a
fortificação do sistema imunitário.
A observação da forma como se
escreve desde a forma da grafia de cada letra à forma como se conjugam as
palavras pode dizer muito da nossa personalidade e do nosso estado anímico no
momento em que o fazemos. Repara que a tua forma de fazer as letras é só tua, é
como a tua impressão digital, e que bonita é a caligrafia de algumas pessoas. Importa
saber que a escrita acompanhada e dirigida pode ter bons resultados
terapêuticos no tratamento de alguns desequilíbrios mentais.
Escrever à mão, nos dias de hoje,
está em desuso, mas é das melhores formas de estimulação cognitiva que temos
desde os primórdios grafemas na era do bronze, que o homem tem a necessidade de
se comunicar e relatar os acontecimentos. Atualmente a escrita é raro, ser
feita em papel, enviar cartas e receber. A maioria da correspondência que nos
chega à nossa caixa de correio são contas para pagar ou anúncios para comprar.
Ainda me lembro das primeiras
cartas que escrevi e recebi, tanta importância tiveram no meu crescimento.
Agora a escrita passou a ser só o
essencial, pequenas frases por mensagem, e-mails,
ou somente emojis de emoções. É
curioso que antes dos alfabetos (os mais conhecidos eram os hieróglifos
egípcios) a comunicação era feita por símbolos, os chamados sinais sagrados.
Para dizer boi fazia-se o desenho de um boi. Decifrar a mensagem de um hieróglifo
era tão sagrado, quanto secreta tenta ser a mensagem de emojis com uma junção
de letras à mistura na transmissão de emoções, nos dias de hoje.
Ao começar a escrever algo, seja
o que for, existe sempre o chamado “síndrome da folha em branco” em que parece
que é preciso ter a mente completamente limpa para começar. Tal como um pintor
quando decide pintar um quadro, precisa de inspiração par dar a primeira
pincelada, a primeira gota de tinta a colorizar a tela, a escrita também assim
o exige como se a musa da escrita precisasse de ser mimada a cada dia, para que
a criatividade e a inspiração não navegue além das margens da folha.
Toda a palavra deve ter vida
própria em estado de liberdade, pode estar errada, mesmo sem sentido, no meio,
do princípio ao fim, que sempre se divirta, quem a lê, a interpreta, ou a cante
em tom de canção, e dance a quem fez aquecer o coração.
Escrever é um momento criativo
com asas sem limites de céu, é aquele encontro contigo mesmo, em que a tua própria
voz rediz o pensamento em cada palavra.
Como vos digo, cada um saberá a
sua forma de o fazer, não sou um escritor por excelência, sabendo das minhas
limitações, para mim escrever é uma luta como o é para todos os disléxicos que
encalaram os erros. Passei a encará-los sem medos, já sem qualquer nervosismo,
ou sentimento de inferioridade perante o erro por mais repetitivo que seja, “o disléxico
puro sabe que há palavras que se escrevem assim, mas erra na mesma porque a
velocidade de processamento do que está a pensar é mais rápido que a capacidade
de escrita”. Sem querer desculpar-me, o importante é comunicar, o meu corretor “Julix-llabela”
(nome fictício). Diz que eu a escrever sou como o Nobel José Saramago, não
existem regra gramaticais, vírgulas e pontos finais. Não há limites e por vezes
saio da própria folha em branco. Nesta tentativa de perceber a dislexia de
próximos e longínquos temos coisa em comum, uma necessidade enorme de nos
comunicarmos, mas a maioria evita a escrita, por ser, naturalmente, um esforço
acrescido.
Qual é a tua forma de escrever!?
Gostava mesmo de saber, vou só ler sem tentar perceber como pensas ou é a tua
personalidade, só se me pedires muito. Somente porque escrever é isso mesmo,
uma partilha com os outros, o que sentimos no nosso íntimo.
Há quanto tempo não escreves uma
carta para alguém!?
Ou simplesmente não registas um
acontecimento importante!?
Ter um caderno de bolso ajuda a registares algumas ideias para futura escrita. Sabes que
escreveres descrições de situações, sensações ou emoções “in loco” são muito
mais fidedignas com a tua memória, este relato e a recordação futura fica
preservada.
Este exercício de registares memórias presentes, pode auxiliar a tua memória no futuro. Escreve e vais ver a tua evolução, como ser comunicativo, o que escreves hoje ou a capacidade que descrever o que sentes hoje será diferente de um dia mais à frente, mesmo que a situação ou emoção seja parecida.
Este exercício de registares memórias presentes, pode auxiliar a tua memória no futuro. Escreve e vais ver a tua evolução, como ser comunicativo, o que escreves hoje ou a capacidade que descrever o que sentes hoje será diferente de um dia mais à frente, mesmo que a situação ou emoção seja parecida.
Faz uma pausa e permite-te
escrever algo nem que seja só para ti, mas dá-te esse presente, que decerto vai
ser uma boa recordação futura. O que escreves, apesar de não ser tão rápido,
mas pode ser mais descritivo que uma foto ou uma selfie de uma situação. Acreditas!?
Boa escrita.
Celino Barata